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A Evolução da Mente
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Quarta-feira passada, estava no avião, vindo de São Paulo para Porto Alegre. Para mim, viajar de avião é uma tarefa difícil. O medo é grande. Geralmente, rezo a viagem inteira, mas nessa, parei um pouco as orações e fiquei vendo e ouvindo a conversa entre dois passageiros.
No avião, estava uma turma de torcedores do Santos, que naquele dia jogaria contra o Internacional. Um dos torcedores do Santos perguntou à uma moça que estava sentada na poltrona da frente qual era a melhor balada de Porto Alegre. Alguém do fundo do avião, que ouviu a conversa gritou: Gruta Azul! Muitos riram e o passageiro que estava ao meu lado começou a puxar assunto com a tal garota.
_ Tu é de onde?
_ Ah, sou de Porto. - respondeu a moça.
_ Ah, legal. Eu também. Será que tem balada hoje? Quarta-feira?
_ Ah, na Rua Padre Chagas sempre tem! Você ta indo ou voltando? - perguntou a moça.
_ Eu estou voltando. Viajo muito. Ontem estava no Maranhão, hoje em São Paulo. Amanhã irei para Foz do Iguaçu... - e assim, o rapaz desfiou um roteiro de viagens, para tentar impressionar a moça.
_ Ai, que emprego legal esse seu! Adoro viajar! - disse ela, sorrindo.
Eu, vendo tudo, neste momento pensei: Pronto, já ganhou! Mas o rapaz tentou aprofundar mais a conversa:
_ Eu te conheço de algum lugar...
Pensei: Putz, que cantada mais fuleira...
_ Ah é, mas Porto é tão grande. Será que me conhece mesmo?
_ Em que colégio tu estudou?
_ No Dom Bosco.
_ Eu também! Só pode ser de lá! - se empolgou o rapaz.
_ Mas eu fiquei seis meses só lá... - esquivou-se a moça.
_ Hum...
_ Depois fui para o Colégio Farroupilha.
_ Ah, eu sabia!!! Eu também estudei lá!
Acho que nesse momento, a moça percebeu que o rapaz estava sendo cafona demais usando as cantadas do tempo do Ariri Pistola, aquelas mentiras fajutas que não funcionam mais nos dias de hoje.
Mas o ponto culminante dessa trajetória de 'cantadas fuleiras' disparadas pelo meu vizinho de assento foi quando a moça olhou pela janela e perguntou:
_ Será que já saímos de São Paulo?
E o rapaz, pensando que iria impressioná-la soltou:
_ Ah, sim. Pelo que eu estou vendo, estamos em cima de Curitiba.
Como assim? O avião já tinha atingido a altura total, só dava pra ver nuvens e mais nada. Será que o cara pensou que ela iria acreditar que ele reconhece uma cidade apenas olhando para as suas nuvens? Ele deveria estar pensando nesse momento "to abafando." E ela pensando "que cara idiota!"
Bem, contei essa história porque ela tem relação com algumas coisas que acontecem no circo. As vezes ouço esse tipo de mentiras, de histórias mirabolantes, que só prejudicam o circo. Claro que temos que enaltecer o circo no qual trabalhamos, mas não podemos chamar as pessoas da cidade de bobos. Há tempos atrás, ouvi de um secretário de circo que ele foi o responsável pelo contrato da TV Globo com o Tarcísio Meira.
Muito se fala em evolução do circo. Muitas das reivindicações falam que o circo parou no tempo, que precisa evoluir. Mas, no meu ponto de vista, o circo já evoluiu. A luz branca deu lugar aos movies, a cortina de lona se transformou em veludo e o praticável torna melhor a visão do espectador.
O que falta evoluir, agora, é a mentalidade de alguns circenses. Histórias mirabolantes que auto promove quem está contando não desce mais na garganta das pessoas. O Loque de praça hoje em dia está mais inteligente. As mentiras fajutas, como as do cara do avião, não funcionam mais.